sábado, 13 de junho de 2009

A saúde está doente nos EUA

Michael Moore denuncia o sistema de saúde norte-americano que trata os doentes como "prejuízo". Sarcasmo e ironia renovadas no novo filme de Moore: Sicko.


Um homem mostra uma ferida aberta no joelho. Prepara-se para a coser, ali no sofá da sala, com uma agulha normal. Michael Moore apresenta-o. É um dos 50 milhões de americanos que não tem seguro de saúde.
Moore prossegue dizendo que 18 mil americanos vão morrer este ano por não terem seguro de saúde. O novo documentário do realizador Michael Moore volta a atacar: desta vez é a denúncia do sistema de saúde norte-americano que trata os doentes como fonte de prejuízo, naquele que é um programa de maximização de lucros das seguradoras e empresas farmacêuticas. Mas Moore não fala apenas dos que não têm seguro de saúde. Não fala apenas do homem que cortou as pontas de dois dedos numa serra e teve de escolher recuperar aquele que lhe saía mais barato. Nem da mulher a quem disseram que não lhe autorizavam o tratamento de que precisava porque era nova de mais para ter cancro. 22 anos. Mas tinha.
Michael Moore fala sobretudo dos outros: dos que tendo seguro de saúde têm as mesmas dificuldades em ter acesso aos tratamentos médicos de que precisam. Porque nos EUA o sistema de saúde não é universal e porque as seguradores se comportam como empresas que são. Para elas, a receita é simples: fazer lucro. E se fazer lucro é igual a prestar menos cuidados médicos, é isso que fazem. A única função de um médico numa seguradora passa a ser encontrar razões para negar o tratamento e poupar dinheiro à empresa.
Moore puxa sempre a brasa à polémica, e a maneira de o fazer é extremar os campos. O realizador de 53 anos não se limita a reportar os factos, a documentá-los: intervém directamente na realidade para evidenciar a tese que quer provar. Daí que pareça exagerado ao olhar e ouvido mais atento quando nos faz parecer que a Inglaterra e a França são países perfeitos, onde não se espera mais de 45 minutos por uma consulta, onde não se paga a universidade (o que em França não é verdade, os estudantes pagam propinas, ainda que essa propina anual seja menos de metade da que os alunos portugueses pagam…) Prega com ironia as maravilhas de um sistema de saúde "socializado" na Europa, mas só mostra as virtudes desse sistema e não as falhas. É esse o modus operandi de Michael Moore: mostrar e enfatizar a porção da realidade que lhe interessa para validar o seu ponto de vista. O que, paradoxalmente, acaba por enfraquecer a sua tese: sabemos que o sistema de saúde de que a Europa dispõe, mesmo com as suas lacunas, bate o sistema americano aos pontos. Mas com Moore a pôr tudo entre o preto e o branco, entre os "bons e os maus", é difícil apoiá-lo a 100%.
Seguradoras, tremam!
As seguradoras prepararam-se para a chegada de Moore – distribuindo memorandos nas empresas que ensinavam os empregados o que fazer e dizer na presença do realizador. Mas Michael Moore nem quis falar com eles. Não há, por isso, o "outro" lado da história (talvez fosse interessante ouvir as seguradoras a tentar justificar o seu trabalho…). Mas Michael Moore não é jornalista. Segundo ele, o seu trabalho (sendo jornalismo, é também uma sátira combinada com largas pitadas de opinião de modo a criar uma obra de arte). Obra de arte? Há quem ache o contrário. Rick Caine e Debbie Melnyk, outrora fãs de Moore, lançaram o documentário Manufactering Dissent onde desconstroem os métodos de Moore e o mostram como um homem que não sabe lidar com as críticas. Talvez para provar que consegue, no final do documentário Moore revela que financiou o maior site "Anti-Moore" dos EUA, que ia fechar porque a esposa do seu autor estava doente e ele não podia suportar os custos.
Em Sicko, Michael Moore recorre à artilharia pesada para demonstrar que está certo. Recruta trabalhadores voluntários no Groud Zero que desenvolveram doenças respiratórias e a quem as seguradoras se recusam a ajudar. Levou-os até Guantanamo (onde os presos da Al-Qaeda recebem melhores tratamentos médicos, diz Moore, que os americanos). Não podendo entrar, segue com os trabalhadores até Cuba, onde tem total liberdade de movimentos. E por isso tem o governo dos EUA (mais uma vez) à perna, com acusações de ter violado o embargo dos EUA a Cuba.
Apesar de tudo, há algo de diferente neste filme. Moore afirmou quer que este filme seja visto para lá de diferenças entre partidos e crenças políticas. O mau serviço do sistema de saúde norte-americano afecta todos. Este ano, no Festival de Cannes, onde apresentou o filme, Moore confessou: “Não quero ser eu a fazer as coisas, quero que sejam os americanos a levantar-se e a fazer as coisas”. Mas o realizador dá um "empurrãozinho".
Fonte: Sapo.pt

2 comentários:

  1. Excelente sinópse. Agora vocês precisam incrementar o Blog. Façam a apresentação do grupo no perfil, um texto explicando os objetivos do blog (associado à disciplina ou ao conceito de cidadania); tratem de postar vídeos ou músicas...
    Abração
    Rodrigo

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